
Entering Panmela Castro's exhibition, Ideias Radicais Sobre o Amor (Radical Ideas About Love), at the Museu de Arte do Rio (Rio Art Museum), feels like stepping into a conversation about what it means to be human. Love, connection, and care permeate the space—not as fixed ideas, but as dynamic and ever-evolving forces. Curated by Daniela Labra with support from Maybel Sulamita, the exhibition transforms the museum into an environment where love is simultaneously personal and collective, delicate and political, ephemeral and enduring.
Panmela Castro’s works are not just meant to be seen but to be experienced, touched, and felt. Her gestures, both playful and deeply serious, draw the viewer in—whether by drinking tea, opening a fortune cookie, or participating in another performance. Her art raises several questions: What does it mean to care for another? Can love, in its many forms, be cultivated through art? And if love is an act of reinvention, as Labra suggests in her curatorial text, how can we use it to transform the world around us?
Five O'Clock Tea (2024) [Photo: Gabriel Andrade]
At the core of Radical Ideas About Love is a strong commitment to participation. In works like Five O'Clock Tea (2024), a collective tea ritual where visitors leave notes under the cups—offering advice, reflections, or small acts of kindness to strangers. This simple exchange becomes deeply intimate, reminding us of the power of small gestures to bring people closer together. Similarly, in Feminist Bible (2021–2024), Castro invites women to rewrite a sacred book with messages that focus on their aspirations and reflections, reclaiming a narrative that has historically excluded them.
Feminist Bible (2021–2024) [Photo: Cris Lucena]
These moments of interaction with the audience reflect the message the artist seeks to convey: her art and experiences are inseparable. Her works transform everyday rituals into acts of care and solidarity, echoing what psychologist Erich Fromm described in his book The Art of Loving (1956): love as an active practice that requires effort, humility, and courage. Panmela Castro’s work shares this same philosophy, offering a model for what Fromm called the “discipline of love”—a continuous process of giving and receiving that nurtures human connection.
But love, as Panmela presents it, is not always easy or comfortable. It is also messy, vulnerable, and sometimes painful. In the performance Rupture (2015–2024), she invites participants to cut her hair, turning a deeply personal act into a collective ritual of release and renewal. Holding the scissors, the spectator shares the feeling and weight of what it means to let go—not just of hair, but of identities, relationships, and memories it carries. Similarly, in Revenge (2019–2024), the destruction of Ursão, a giant stuffed bear, confronts the audience with the inevitability of loss. These performances remind us that love is not only about connection but also about the courage to accept impermanence.
Panmela Castro’s works also engage with feminist art traditions that emphasize the body and relationality. Her performances echo the practices of artists like Ana Mendieta, who explored vulnerability and resilience, and Catherine Opie, whose photographic work on identity inspired Panmela’s use of scarification in Consagrada (2021). Like these pioneers, the artist uses her body not just as a means of expression but as a vehicle for connection, inviting the audience to reflect on their own experiences of love, care, and community.
Revenge (2019–2024)
Love in Action
What makes Panmela different is the multiplicity of forms of love she explores—platonic, romantic, self-love, collective care, and even love embodied in resistance. In Merit Honor (2023–2024), women reclaim their agency and visibility by awarding themselves medals in a symbolic act of self-recognition. This practice is deeply moving; it is an act of collective empowerment that lingers with the audience beyond the performance. However, throughout her work, Castro balances her critique of social norms with humor, irony, and playfulness, inviting us to imagine how love can exist beyond these constraints.
Merit Honor (2023–2024)
The constant evolution of the exhibition mirrors the fluidity of love itself. Some works are created live during the exhibition period, emphasizing the process over the final product. This openness to change reflects the temporal dimension of love, aligning with the theory of belongingness by Roy Baumeister and Mark Leary, which argues that human connection is a dynamic and ongoing need. Panmela amplifies this idea by collaborating with others—friends, strangers, and artists—who activate her works and become part of her narrative.
As the viewer moves through the exhibition, it becomes clear that Radical Ideas About Love is not just about love as a feeling, but also as an action. It is about the effort required to listen, care, and connect, even in the face of vulnerability and loss. Panmela does not offer easy answers but creates a space for reflection and intimacy.
What is the impact of art on the construction of love and relationships? This is one of the questions that lingers as I leave the exhibition. This question feels less like a challenge and more like an invitation. Perhaps it is not art itself that creates love, but the way we, as participants, engage with it: our willingness to be present, to connect, and to care. In this sense, Panmela Castro’s work is not just a celebration of love, but a call to action. Her art reminds us that love, in all its complexity, is something we create together, one note, one gesture, and one performance at a time.
By Jennifer Inacio
Originally published in Select on 11/21/2024.
Available at: https://select.art.br/um-chamado-a-acao/
Um chamado à ação
Em individual no MAR, Panmela Castro mostra que arte e experiência são inseparáveis: suas obras transformam rituais cotidianos em atos de solidariedade
Entrar na exposição Ideias Radicais Sobre o Amor de Panmela Castro, no Museu de Arte do Rio, é como se envolver em uma conversa sobre o que significa ser humano. Amor, conexão, cuidado – esses conceitos permeiam o espaço, não como ideias fixas, mas como forças dinâmicas e em constante transformação. Com curadoria de Daniela Labra e apoio de Maybel Sulamita, a mostra transforma o museu em um ambiente onde o amor é simultaneamente pessoal e coletivo, delicado e político, efêmero e duradouro.
As obras de Panmela Castro não são feitas apenas para serem vistas e sim para serem vivenciadas, tocadas e sentidas. Seus gestos, ao mesmo tempo lúdicos e profundamente sérios, atraem o espectador – seja ao tomar um chá, abrir um biscoito da sorte ou participar de uma outra performance. Sua arte questiona vários pontos: o que significa cuidar do outro? O amor, em suas muitas formas, pode ser cultivado através da arte? E se o amor é um ato de reinvenção, como Labra sugere em seu texto curatorial, como podemos usá-lo para transformar o mundo ao nosso redor?
No núcleo de Ideias Radicais Sobre o Amor está um importante compromisso com a participação. Em obras como Chá das Cinco (2024), um ritual coletivo de chá, os visitantes deixam bilhetes sob as xícaras – oferecendo conselhos, reflexões ou pequenos gestos de bondade a desconhecidos. Essa troca simples se torna profundamente íntima, lembrando-nos do poder de pequenos gestos nos aproximar de outras pessoas. De forma semelhante, em Bíblia Feminista (2021–2024), Castro convida mulheres a reescreverem um livro sagrado com mensagens que focam em suas aspirações e reflexões, recuperando uma narrativa que historicamente as excluiu.
Esses momentos de interação com o público refletem a mensagem que a artista nos quer passar: sua arte e suas experiências são inseparáveis. As obras transformam rituais cotidianos em atos de cuidado e solidariedade, ecoando o que o psicólogo Erich Fromm descreveu em seu livro The Art of Loving [A Arte de Amar, 1956]: o amor como uma prática ativa que exige esforço, humildade e coragem. O trabalho de Panmela Castro divide essa mesma filosofia, oferecendo um modelo para o que Fromm chamou de “disciplina do amor” – um processo contínuo de dar e receber que nutre a conexão humana.
Mas o amor, como Panmela o apresenta, nem sempre é fácil ou confortável. Também é desordenado, vulnerável e, às vezes, doloroso. Na performance Ruptura (2015–2024), ela convida os participantes a cortar seu cabelo, transformando um ato profundamente pessoal em um ritual coletivo de liberação e renovação. Segurando a tesoura, o espectador divide o sentimento e o peso do que significa deixar ir – não apenas o cabelo, mas as identidades, relações e memórias que ele carrega. Também em Revanche (2019–2024), a destruição de Ursão, um urso gigante de pelúcia, confronta o público com a inevitabilidade da perda. Essas performances nos lembram que o amor não é apenas sobre conexão, mas também sobre a coragem de aceitar a impermanência.
As obras de Panmela Castro também dialogam com tradições da arte feminista que destacam o corpo e a relacionalidade. Suas performances ecoam as práticas de artistas como Ana Mendieta, que explorou a vulnerabilidade e a resistência, e Catherine Opie, cuja obra fotográfica sobre identidade inspirou o uso de escarificação por Panmela em Consagrada (2021). Como essas precursoras, a artista usa seu corpo não apenas como um meio de expressão, mas como um veículo para conexão, convidando o público a refletir sobre suas próprias experiências de amor, cuidado e comunidade.
Amor ao vivo
O que a distingue é a multiplicidade de formas de amor que explora –platônico, romântico, amor-próprio, cuidado coletivo e até o amor incorporado na resistência. Em Honra ao Mérito (2023–2024), mulheres recuperam sua agência e visibilidade ao se auto-premiarem com medalhas em um ato simbólico de autorreconhecimento. Essa prática é comovente; é um ato de empoderamento coletivo que permanece com o público além da performance. No entanto, através de seu trabalho, Castro equilibra sua crítica a normas socias com humor, ironia e de forma lúdica enquanto nos convida a imaginar como o amor pode viver além dessas restrições.
A constante evolução da exposição espelha a fluidez do próprio amor. Algumas obras são criadas ao vivo durante o período expositivo, enfatizando o processo em lugar do produto final. Essa abertura à mudança reflete a dimensão temporal do amor, alinhando-se à teoria da necessidade de pertencimento de Roy Baumeister e Mark Leary, que argumenta que a conexão humana é uma necessidade dinâmica e contínua. Panmela amplifica essa ideia ao colaborar com outros – amigos, desconhecidos e artistas – que ativam suas obras e se tornam parte de sua narrativa.
À medida que o espectador percorre a exposição, fica fácil entender que Ideias Radicais Sobre o Amor não trata apenas do amor como sentimento, mas também como ação. Trata-se do esforço necessário para ouvir, cuidar e se conectar, mesmo diante da vulnerabilidade e da perda. Panmela não oferece respostas fáceis, mas cria um espaço para reflexão e intimidade.
Qual o impacto da arte sobre a construção de amores e relações? Essa é uma das perguntas que ficam quando saio da exposição. Essa questão parece menos um desafio e mais um convite. Talvez não seja a arte em si que construa o amor, mas a maneira como nós, como participantes, nos envolvemos com ela: nossa disposição para estar presentes, nos conectar e cuidar. Nesse sentido, o trabalho de Panmela Castro não é apenas uma celebração do amor, mas um chamado à ação. A sua arte nos lembra que o amor, em toda a sua complexidade, é algo que criamos juntos, com um bilhete, um gesto e uma performance por vez.
Jennifer Inacio
Originalmente publicado na Select, em 21/11/2024
Disponível em: https://select.art.br/um-chamado-a-acao/